Ninguém nasce sabendo ser pai ou mãe e está tudo bem

A primeira vez que percebi que eles não sabem tudo

A primeira vez que eu me dei conta de que os meus pais não sabiam de tudo, a minha cabeça explodiu. Não no sentido mais falado, mas tudo o que eu construía e alimentava, como opiniões, conhecimentos, senso crítico, regras de etiqueta e muitos outros aspectos de personalidade era baseado naquela verdade absoluta passada entre gerações dentro da família.

Comigo, não houve um momento certo que demarcasse exatamente um esclarecimento do tipo: “A partir daqui descobri que nem todas as minhas perguntas meus pais saberão responder”. Acho que (como quase tudo) foi com a idade. Com o passar do tempo mesmo. Principalmente na clássica e, muitas vezes, temida transição da adolescência para o início da vida adulta.

Quando falo sobre respostas e a falta delas, não quero dizer que necessariamente ouvimos um “não sei” da nossa mãe ou pai. É pior. Eles nos respondem, na maioria das vezes. E é aí que mora a essência dessa reflexão.

Em absolutamente todas as ocasiões da minha vida, eu recebi uma resposta.

No entanto, obviamente, essas respostas são embasadas nas vivências e experiências dos nossos pais. O risco e a responsabilidade disso é: elas podem estar erradas. E podem nos levar para caminhos errados, até mesmo desenvolver pensamentos que induzam a ações erradas. 

Existe um jeito certo?

Como assim não existe um caminho certo ou errado?

Os acontecimentos não costumam nos entregar somente duas opções de saída. Aliás, muito pelo contrário, são inúmeras possibilidades capazes de nos levar para diferentes finais. Chega a ser uma forma até meio filosófica de descrever a vida e como ela funciona.

Dito isso, acho que esse é um bom parágrafo para enriquecer essa reflexão, trazendo uma parte inevitável dessa conversa. Quem nunca ouviu aquela frase ou similar: “Foi ter filho, agora arque com as consequências”?

Eu sempre ouvi isso. Mas, nessa transição, percebi que isso costuma sair da boca de pessoas que ainda não vivenciaram a maternidade na própria pele. E, mais do que isso, que não experimentaram sair da própria realidade para entender as diferentes posições sociais que estão envolvidas nessa história.

Noto, hoje, com 19 anos, que já poderia ter me tornado mãe. O mais incrível é que não me vejo, nem em dez anos, sendo mãe. Ou como alguém capaz de lidar com isso da maneira “certa”.

Ter isso em mente, não só me traz empatia por pais e mães, como também me faz perdoar muita coisa.

Empatia não apaga dor, mas amplia a compreensão

Em suma, queria deixar claro que o meu objetivo não é apagar históricos familiares difíceis com um ponto de vista meramente meu e baseado nas minhas experiências. Não. Até porque cada contexto é único.

Mas busco a construção de uma relação aqui. Relação de amizade. 

E como me ajuda, pode ser que te ajude também. 

Eu vejo que, muitas vezes, erros passados dos nossos pais se desdobram como determinantes nas vidas dos filhos. Como se nos definissem. E isso não precisa ser assim.

Eu busco investir em momentos de terapia, onde tenho abertura para falar justamente sobre quando recebi uma resposta errada dos meus pais. Ou momentos com amigos, para compartilhar isso, ou quaisquer outras formas de cuidar do meu psicológico.

Cuidar da saúde mental, do jeito que for e de acordo com a sua acessibilidade, sempre será um ato de carinho e cuidado consigo mesmo.

Aceitar que eles também estão aprendendo

Apesar de tudo, não deixo de lado o ser humano que existe por trás dos meus pais, por mais maduros que sejam. Me lembro que, por mais difícil que seja de acreditar, foi para o meu bem. Foi na tentativa de acertar. Ou também nem sempre. Não posso mudar isso. 

O papo também não é estoico, meu objetivo não é te dizer que você não deve se afetar com aquilo que você não consegue controlar/mudar. Não é bem assim que a banda toca, eu sei.

Porém, enfatizar para mim mesma que não nasceram com um manual que ensinasse como agir em todas as situações que a vida apresenta me conforta de certa maneira.

Em outras palavras, aceitar que nossos pais também são humanos é desconfortável, mas é libertador. É o primeiro passo para construirmos nossa própria visão do mundo com mais empatia, reflexão e consciência.

Essa é a última passagem desse texto, mas não é o momento de parar de refletir.

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